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quinta-feira, 26 de maio de 2022

Com força e talento, mulheres sanfoneiras quebram preconceito e dominam arte de tocar instrumento símbolo do forró

 Presença feminina ganha espaço na área da sanfona profissional, predominantemente masculina. Terezinha do Acordeon incentivou gerações com seu pioneirismo.

 

Curso de sanfona promovido pela Secretaria de Politica das Mulheres, em Caruaru, Agreste de Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo

O aprendizado da sanfona perpassa costumes familiares, pois a maioria dos sanfoneiros aprenderam a tocar o instrumento através de algum parente, amigo ou de forma autodidata. No Recife, um grupo de mulheres vem quebrando preconceitos ao dominar a arte do instrumento em um cenário predominantemente masculino.

Karolina Maciel foi a primeira aluna do Conservatório Pernambucano de Música a conquistar o diploma do curso técnico em sanfona. No final de cada semestre, a instituição abre inscrições em um processo seletivo para preencher vagas em cursos profissionalizantes.

"Hoje em dia, eu já me coloco nesse lugar de profissional da música e é isso que eu pretendo fazer", disse Karolina.

A estudante do curso técnico em sanfona Lara Borges, reconheceu a complexidade de tocar o instrumento. "A sanfona é imponente, a forma que ela se coloca, de ter três coisas que o seu cérebro tem que fazer junto, que é o fole, o teclado e o baixo. Também é uma área que tem poucas mulheres", disse.

A médica e também sanfoneira Ana Emília se dedica ao instrumento há nove anos. "Eu acho que uma sanfona tocada por uma mulher, ela tem esse traço de sensibilidade que só a gente tem. E aí, porque não? Não tem 'por que não'. Lugar de mulher é onde ela quiser", declarou.

 

Sanfoneiras no Agreste

 

Em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, um curso de sanfona promovido pela Secretaria de Política das Mulheres tenta corrigir uma desigualdade histórica formando novas sanfoneiras.

 

Por muito tempo, o instrumento foi segregado aos homens, cenário este que vem mudando a partir de mulheres de todo o Nordeste mostrando sua força e seu talento.


A secretária de Política das Mulheres em Caruaru, Juliana Gouveia, destacou a representatividade feminina nesse meio musical.


"A sanfona era sempre tida como um instrumento musical que não era pra mulheres e a gente está provando que sim, que pode. As mulheres tinham muito desejo de participar, de tocar a sanfona, mas muitas não tinham acesso ou condição", declarou a secretária.

 

A feirante Maria Vilma é uma dessas mulheres que sempre tiveram vontade de ter contato com o instrumento. Ela encontrou no curso, que frequenta três vezes por semana, a oportunidade de realizar um sonho. "Acho que é como uma mãe que abraça uma filha, eu gosto muito", disse.

Aos 70 anos, a motorista de aplicativo Maria Claudiane sempre se emociona ao lembrar de como é fazer parte da turma. "Eu fico feliz. Até chorei quando anunciou. Eu fico feliz em estar aqui. Depois de tantos anos, eu sou feliz", declarou.

 

Quem comanda as aulas é a professora e integrante do único trio de mulheres sanfoneiras em Caruaru, Flávia Soares. "Tantas falas de que a mulher não pode estar nesse cenário. A mulher pode sim. Ela pode tudo, ela pode o que quiser", disse a professora.

O grande sonho das aprendizes de Flávia é formar uma orquestra sinfônica unicamente composta por mulheres.


Pioneirismo


Terezinha do Acordeon, como é conhecida a cantora, compositora e instrumentista Terezinha Bezerra Chaves, incentivou gerações de mulheres sanfoneiras com seu pioneirismo. Ela nasceu em 1950 em Salgueiro, no Sertão pernambucano, mas adotou o Recife como sua casa em 1970.

 

Desde os 15 anos, ela impressiona pelo domínio do instrumento, mas contou que o início não foi fácil. "Os contratantes achavam que eu não conseguiria tocar duas horas de forró, três horas de forró. Tive que passar esse tipo de barreira", disse.

 

A profissionalização e a representatividade feminina no ofício vêm mudando com sua contribuição e influência na cena musical do forró brasileiro. "Eu abri esta porteira para outras passarem, para outras virem e hoje, graças a Deus, tem muita mulher tocando", comemorou Terezinha.

Por Beatriz Castro e Vítor Oliveira*, TV Globo e g1 PE

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