Presença feminina ganha espaço na área da sanfona profissional, predominantemente masculina. Terezinha do Acordeon incentivou gerações com seu pioneirismo.

Curso de sanfona promovido pela Secretaria de Politica das Mulheres, em Caruaru, Agreste de Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo
O aprendizado da sanfona
perpassa costumes familiares, pois a maioria dos sanfoneiros aprenderam a tocar
o instrumento através de algum parente, amigo ou de forma autodidata. No Recife, um grupo de mulheres vem quebrando preconceitos ao dominar
a arte do instrumento em um cenário predominantemente masculino.
Karolina Maciel foi a
primeira aluna do Conservatório Pernambucano de Música a conquistar o diploma
do curso técnico em sanfona. No final de cada semestre, a instituição abre
inscrições em um processo seletivo para preencher vagas em cursos
profissionalizantes.
"Hoje em dia, eu já
me coloco nesse lugar de profissional da música e é isso que eu pretendo
fazer", disse Karolina.
A estudante do curso técnico em sanfona
Lara Borges, reconheceu a complexidade de tocar o instrumento. "A sanfona
é imponente, a forma que ela se coloca, de ter três coisas que o seu cérebro
tem que fazer junto, que é o fole, o teclado e o baixo. Também é uma área que
tem poucas mulheres", disse.
A médica e também
sanfoneira Ana Emília se dedica ao instrumento há nove anos. "Eu acho que
uma sanfona tocada por uma mulher, ela tem esse traço de sensibilidade que só a
gente tem. E aí, porque não? Não tem 'por que não'. Lugar de mulher é onde ela
quiser", declarou.
Sanfoneiras no Agreste
Em Caruaru, no Agreste de Pernambuco,
um curso de sanfona promovido pela Secretaria de Política das Mulheres tenta
corrigir uma desigualdade histórica formando novas sanfoneiras.
Por muito tempo, o
instrumento foi segregado aos homens, cenário este que vem mudando a partir de
mulheres de todo o Nordeste mostrando sua força e seu talento.
A secretária de Política
das Mulheres em Caruaru, Juliana Gouveia, destacou
a representatividade feminina nesse meio musical.
"A sanfona era sempre tida como um
instrumento musical que não era pra mulheres e a gente está provando que sim,
que pode. As mulheres tinham muito desejo de participar, de tocar a sanfona,
mas muitas não tinham acesso ou condição", declarou a secretária.
A feirante Maria Vilma é uma dessas
mulheres que sempre tiveram vontade de ter contato com o instrumento. Ela
encontrou no curso, que frequenta três vezes por semana, a oportunidade de
realizar um sonho. "Acho que é como uma mãe que abraça uma filha, eu gosto
muito", disse.
Aos 70 anos, a motorista
de aplicativo Maria Claudiane sempre se emociona ao lembrar de como é fazer
parte da turma. "Eu fico feliz. Até chorei quando anunciou. Eu fico feliz
em estar aqui. Depois de tantos anos, eu sou feliz", declarou.
Quem comanda as aulas é a professora e
integrante do único trio de mulheres sanfoneiras em Caruaru, Flávia Soares.
"Tantas falas de que a mulher não pode estar nesse cenário. A mulher pode
sim. Ela pode tudo, ela pode o que quiser", disse a professora.
O grande sonho das aprendizes de Flávia é formar uma orquestra sinfônica unicamente composta por mulheres.
Pioneirismo
Terezinha do Acordeon, como é conhecida a
cantora, compositora e instrumentista Terezinha Bezerra Chaves, incentivou
gerações de mulheres sanfoneiras com seu pioneirismo. Ela nasceu em 1950 em Salgueiro, no Sertão
pernambucano, mas adotou o Recife como sua casa em 1970.
Desde os 15 anos, ela impressiona pelo domínio do instrumento, mas contou que o
início não foi fácil. "Os contratantes achavam que eu não conseguiria
tocar duas horas de forró, três horas de forró. Tive que passar esse tipo de
barreira", disse.
A profissionalização e a
representatividade feminina no ofício vêm mudando com sua contribuição e
influência na cena musical do forró brasileiro. "Eu abri esta porteira
para outras passarem, para outras virem e hoje, graças a Deus, tem muita mulher
tocando", comemorou Terezinha.
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