Prefeitura de Arcoverde

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sexta-feira, 22 de julho de 2022

Morgan Leon tem se destacado através da sua arte, já com exposição no FIG tem chamado atenção.


Morgan encontra arte na sua própria abertura às experiências, ao modo como a vida nos abala, altera e produz com maior inteireza. Mesmo muito jovem, devota-se a uma ética e uma estética da existência que evolve laços de amor e amizade, do interior dos quais a arte se desdobra como modo privilegiado de expressão. 

Numa entrevista recente, o historiador de arte Georges Didi-Huberman recordava o já falecido poeta e cineasta Pier Paolo Pasolini para indagar: o que significa a liberdade artística, enquanto tudo ao  redor está privado de liberdade? Se a liberdade artística pode atualmente se tornar um fetiche que esconde a falta de liberdade de todos os outros indivíduos, me parece que é de uma liberdade como a que põe em causa a obra de Morgan Leon, estabelecida numa linha de meditação que tateia com mãos cuidadosas os cruzamentos entre subjetividade individual e condição coletiva, que carecemos em tempos sombrios como os nossos.

Nesse sentido, me chama especial atenção, entre outros aspectos admiráveis, o teor simbólico por trás do modo como Morgan concebe o olhar das figuras humanas construídas em suas pinturas. Olhos e olhares que, nem determinados na direção para onde fitam, nem exatamente perdidos, quase sempre assemelham-se a vidros estilhaçados depositados novamente pelo artista na órbita ocular. Emblemáticos, olham para dentro e para fora, ao mesmo tempo, como aquele que os criou, representando mundos interno e externo para fazer de um sentimento particular um estado de espírito infinitivo.

Estão arrastados, esses olhos singularmente marejados, como os corpos aos quais pertencem e todo o ambiente criado por Morgan, pelos ventos da impermanência. Aliás, passeando por suas ilustrações, é num autêntico jardim de diferentes vivências onde ficamos imersos, feito de variações intensas, bem-aventuranças e entraves, prazeres e embaraços,. E se, a essa altura, já pudemos abandonar de vez a imagem convencional do artista como origem fundante, presumimos então que a beleza dos trabalhos futuros que este "Jardim das Estações" gesta não é resultado de uma progressão evolutiva. Como essas estações – e isso constitui sua imprevisibilidade instigante – terão nascimento a partir de crises, deslocamentos e reinvenções, sendo assim a sorte de singularidade irredutível com que Morgan nos presenteia.

A exposição vai acontecer do dia 23 a 31 de julho, das 16h às 22h, na Casa Galeria Galpão.

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