Embora estado não tenha registrado casos da doença, confirmada nos EUA e em países da Europa, governo enviou comunicado para unidades de saúde públicas e particulares.
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| Exames de sangue devem ser feitos para detectar casos de hepatite — Foto: Cadu Rolim/Estadão Conteúdo |
Diante do misterioso surto de hepatite em crianças na Europa e nos Estados Unidos, o governo de Pernambuco emitiu um alerta para a observação de ocorrências suspeitas. Caso seja necessário, as unidades de saúde devem fazer notificação imediata. Nesta quarta-feira (27), o estado informou que, apesar dessa medida, não foram registrados casos locais da doença.
No domingo (24), a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou, pelo menos, 169 casos de hepatite aguda de origem desconhecida. A maioria dos registros envolve bebês, crianças e
adolescentes entre um mês e 16 anos. Do total, 17 (o equivalente a cerca de
10%) necessitaram de transplante de fígado e uma morte foi registrada.
Por meio de nota, a Secretaria Estadual de
Saúde (SES) informou que o governo do estado “está atento e monitorando a
ocorrência do agravo ao redor do mundo”.
Segunda maior doença
infecciosa letal do mundo, atrás apenas da tuberculose, a hepatite é a inflamação
do fígado. As principais causas são os vírus (A, B, C, D e E).
Alguns medicamentos, consumo excessivo de álcool e outras drogas e doenças
autoimunes, metabólicas e genéticas também podem desencadeá-la.
O alerta do Centro de Informações
Estratégicas de Vigilância em Saúde de Pernambuco (Cievs-PE) foi emitido na
segunda-feira (25). O documento é destinado a unidades públicas e particulares
de saúde.
As notificações de casos
suspeitos devem ser feitas pelo e-mail cievspesaude@gmail.com ou pelos
telefones (81) 3184-0191 e 99488-4267 (para profissionais de saúde).
Ainda de acordo com o
governo do estado, informações vêm sendo repassadas pela OMS. A entidade
mundial disse, segundo a secretaria, que “testes adicionais têm sido realizados
para outras infecções, produtos químicos e toxinas”.
“As investigações estão
em andamento em todos os países que relatam casos. São eles: Reino Unido, Irlanda do Norte, Espanha, Dinamarca, Holanda, Itália, Noruega, França, Romênia, Bélgica, Israel e Estados Unidos”, informou a SES, na
nota.
Detalhes
O
alerta de número 01/22 do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em
Saúde (Cievs) em Pernambuco apontou que as primeiras infecções ocorreram
na Escócia, sendo logo depois diagnosticadas em outros
locais do Reino Unido.
"No
total, foram registrados cerca de 80 pacientes pela Agência de Saúde e
Segurança do Reino Unido. A idade dos casos variou de 22 meses a 13
anos", disse a Cievs, no texto.
Ainda
segundo o informe, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças
registrou casos na Espanha, na Dinamarca e
na Holanda.
O
Cievs afirmou, ainda, que “o adenovírus foi confirmado em vários casos
europeus, mas não em todos”. Também declarou que “nenhum vínculo epidemiológico
conhecido ou exposições comuns foram encontrados entre essas crianças”.
De
acordo com o alerta feito em Pernambuco, os casos no Reino
Unido apresentavam-se clinicamente com hepatite aguda grave,
com níveis elevados de enzimas hepática, e muitos casos apresentavam icterícia.
Alguns
dos casos relataram sintomas gastrointestinais, incluindo dor abdominal,
diarreia e vômitos nas semanas anteriores. A maioria dos doentes não apresentou
febre.
Os
adenovírus se espalham de pessoa para pessoa e, mais comumente, causam doenças
respiratórias, mas, dependendo do tipo, também podem causar outras doenças,
como gastroenterite (inflamação do estômago ou intestinos), conjuntivite (olho
rosa) e cistite (infecção da bexiga).
O adenovírus tipo 41, geralmente, se
apresenta como diarreia, vômito e febre, muitas vezes acompanhados de sintomas
respiratórios. Embora existam relatos de casos de hepatite em crianças
imunocomprometidas com essa infecção, o adenovírus tipo 41 não é conhecido por
ser uma causa de hepatite em crianças saudáveis.
O Cievs de Pernambuco
disse, ainda, que os testes laboratoriais realizados excluíram os vírus da
hepatite A, B, C, D e E: “A hipótese da Covid-19, no entanto, não vem se
sustentando, pois várias das crianças afetadas não tiveram a doença”.
Equipes de saúde,
principalmente de pediatria, devem estar atentas a crianças e adolescentes com
16 anos ou menos, principalmente com relato de passagem pelos locais afetados,
que apresentem icterícia ou sintomas compatíveis com hepatite aguda não A-E.
Mortes
Todos
os anos, segundo a OMS, as hepatites virais causam 1,7 milhão de mortes no
mundo. No Brasil, entre 1999 e 2018, foram registrados 632.814 casos da doença.
Desse total, 167.108 (26,4%) foram do tipo A, 233.027 (36,8%) do B, 228.695
(36,1%) do C e 3.984 (0,7%) do D (ou Delta).
Os dados constam no
Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2019, divulgado nesta semana pelo Ministério
da Saúde.
Tipos da doença
Hepatite A
Em 2018, de acordo com o Ministério da Saúde, foram
notificados 2.149 casos de hepatite A no Brasil, o que equivale a uma taxa de
detecção de 1 caso por 100 mil habitantes. Em 2008, era de 6,2 por 100 mil
habitantes.
A transmissão se dá por
contágio fecal-oral, na ingestão de alimentos e/ou água contaminados,
especialmente em locais com condições precárias de saneamento básico. Outra
forma, essa menos comum, é através da prática sexual oral-anal, pelo contato da
mucosa da boca com o ânus da pessoa infectada.
Nem sempre a hepatite A
apresenta sintomas, apenas nos quadros agudos. Entre os principais, estão dor
abdominal, diarreia, náusea, vômito, intolerância a cheiros, pele e olhos
amarelados, urina escura, fezes claras, mal-estar e dor no corpo.
Na maioria dos casos, a
doença se cura sozinha, em uma ou duas semanas, e a pessoa adquire imunidade,
ou seja, não tem uma nova infecção. O tratamento desse tipo de hepatite é
sintomático e ainda inclui repouso e dieta, além de evitar o consumo de bebida
alcoólica.
A forma mais eficaz de
se prevenir é com a vacina, disponível gratuitamente para crianças de 15 meses
a 5 anos incompletos (4 anos, 11 meses e 29 dias) nas unidades básicas de
saúde. Para grupos de risco, a imunização ocorre nos Centros de Referência para
Imunobiológicos Especiais.
Fazem parte desse grupos pessoas de
qualquer idade que tenham hepatopatias crônicas, coagulopatias, hemoglobinopatias,
HIV, doenças imunossupressoras e de depósito, fibrose cística e trissomias,
candidatos a transplante de órgãos e doadores de órgãos cadastrados em
programas de transplantes.
Para os demais
indivíduos, a imunização está disponível em clínicas e laboratórios privados.
Além disso, é importante lavar bem os alimentos antes de consumi-los, não
comprá-los em qualquer lugar, só beber água limpa, ter atenção à água que usará
para cozinhar e cuidar da higiene pessoal.
Hepatite B
No ano passado, 13.992
casos de hepatite B foram registrados no país, o que representa 6,9 casos por
100 mil habitantes.
Nessa variação, a
transmissão ocorre pelo contato com sangue contaminado, por meio do
compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas de barbear, alicates de unha e
outros objetos que furam ou cortam, materiais que não foram esterilizados
corretamente, sexo desprotegido e de mãe para filho (transmissão vertical) no
parto.
Apresenta tanto formas
agudas, ou seja, quando há sintomas (são cerca de 10% das ocorrências, tendo as
mesmas manifestações clínicas da hepatite A), quanto crônicas (quando o vírus
persiste no organismo por mais de seis meses).
A enfermidade tem
tratamento, ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e controle, a fim de que não
evolua para cirrose e câncer de fígado. É feito com a administração de
medicamentos antivirais.
O Ministério da Saúde também
disponibiliza vacina. Para as crianças, são quatro doses (ao nascer, 2, 4 e 6
meses) e, para os adultos, três doses, a depender da situação vacinal. Pessoas
que tenham algum tipo de imunodepressão ou o vírus HIV precisam de um esquema
especial, com dose em dobro.
Hepatite C
Pelos dados do Boletim
Epidemiológico de Hepatites Virais 2019, no ano passado foram notificados
26.167 casos de hepatite C no Brasil, com taxa de detecção de 13 por 100 mil
habitantes. Esse tipo da doença é o mais mortal. De 2000 a 2017, foram 53.715
óbitos associados a ela.
O Ministério da Saúde relatou
que, atualmente, mais de 500 mil pessoas convivem com o vírus e não sabem, já
que se trata de uma enfermidade, geralmente, silenciosa, até que atinja maior
gravidade.
A forma crônica é comum
em 80% dos pacientes e, desses, 20% podem evoluir para cirrose hepática e de 1%
a 5% para câncer de fígado.
A patologia é
transmitida da mesma forma que a B, por contato com sangue contaminado, sexo desprotegido
e de mãe para filho na hora do parto.
O tratamento, gratuito
pelo SUS, se dá com o uso de antivirais
de administração oral, determinados de acordo com o genótipo do vírus e o
comprometimento do fígado. Ele é realizado de três meses a um ano e tem
excelentes chances de cura, passando de 95%.
Por não ter vacina contra a hepatite C, a
melhor forma de se prevenir é não compartilhar objetos de uso pessoal e
cortantes ou perfurantes, usar preservativo e, ao se submeter a qualquer
procedimento, certificar-se de que os materiais usados são esterilizados e os
descartáveis não estão sendo reaproveitados.
Hepatite D
No ano passado, no país,
houve 145 casos da hepatite D. Esse tipo da enfermidade depende da presença do
vírus B para contaminar uma pessoa.
Da mesma forma que as
outras variações, dificilmente o doente apresenta sintomas, que também são os
mesmos. A forma de transmissão é por relações sexuais sem camisinha com alguém
infectado, da mãe doente para o filho durante o parto e pelo compartilhamento
de objetos cortantes.
A infecção pode ser
tanto aguda quanto crônica e tem tratamento (com duração de três meses a um
ano) e controle, evitando a evolução para cirrose e câncer. A melhor forma de
se prevenir e não contrair a hepatite B é através da vacina.
Hepatite E
Esse tipo de hepatite
tem baixa prevalência no Brasil, tanto que nem consta no Boletim Epidemiológico
de Hepatites Virais 2019. O contágio é igual ao da A: por condições precárias
de saneamento básico, água e alimentos contaminados e falta de higiene pessoal.
Os doentes também quase não apresentam
sintomas, mas, quando estes surgem, são basicamente os mesmos dos demais tipos
de hepatite: cansaço, enjoo, vômitos, febre, dor abdominal, fezes claras, urina
escura e pele e olhos amarelados.
Na maioria dos casos,
não necessita de tratamento, sendo indicado apenas repouso e não consumir
bebida alcoólica. Há o risco de se tornar crônica em pessoas imunodeprimidas e
transplantados.
Por não ter vacina, a
melhor forma de se prevenir é lavar bem as mãos após ir ao banheiro e antes de
comer, lavar bem os alimentos e não ter contato com água de valões, riachos,
chafarizes, enchentes e esgoto.
Por g1 PE

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