Durante a pandemia e sem aulas presenciais, Cleide Campos enxergou uma oportunidade como manicure. Ela abriu um salão e, atualmente, também é professora na área.
Cleide Campos, formada em letras, se tornou manicure e professora na área durante a pandemia — Foto: TV Asa Branca/Reprodução |
Uma boa história de vida
pode vir de qualquer lugar. Basta estar aberto, disponível para ouvir. A
história da manicure Cleide Campos, que mora em Arcoverde,
no Sertão de Pernambuco, é uma dessas. Se ela fosse escrever um livro, ele bem
que poderia começar com um capítulo sobre adoção. "Minha mãe biológica não
tinha condições financeiras, que na época era separada do meu pai. Foi quando
ela me deixou com a minha mãe [adotiva]. Eu tinha dois anos", lembrou.
"[Ela]
chegou, eu não tinha condições de criar, mas criei", disse o pai de
Cleide, o agricultor Josué Lourenço Campos. "Eu nem pensava que ela era
filha de outra pessoa, nunca. Nem queria dizer e nem queria que alguém
dissesse", afirmou a mãe, Zuleide Ferreira Campos.
Cleide descobriu que
era adotada na adolescência. A notícia que veio de outras pessoas foi
impactante, mas o sentimento de gratidão logo se mostrou maior que tudo. Quando
se tornou adulta, Cleide até conheceu a mãe biológica, mas logo voltou para
perto dos pais que a criaram.
O amor e as lições
que recebeu desde cedo no lar que a adotou fazem parte da personalidade de
Cleide, que nunca sentiu vergonha da história que tem.
Capítulo
Dois: Gari
Já adulta, após
terminar um primeiro relacionamento, Cleide não queria voltar para a casa dos
pais para ser um peso no orçamento. Ela decidiu buscar um emprego para
conseguir dinheiro e realizar o sonho de ir para a universidade. Foi aí que
surgiu uma vaga de trabalho que nem todo mundo aceitou muito bem no começo.
Veio preconceito de toda parte quando Cleide iniciou os trabalhos como gari.
Cleide Campos trabalhou como gari para pagar a faculdade de letras — Foto: TV Asa Branca/Reprodução |
"Eu ainda
cheguei a reclamar, mas ela disse: 'Pai, todo serviço é serviço'",
recordou Josué Lourenço. Mas o trabalho nunca envergonhou a filha dele. Até
porque, o problema está na cabeça de quem tem o preconceito.
"Muitas pessoas
chegaram a me chamar de burra. Eu dizia que fazia faculdade, mas as pessoas
ficavam sem acreditar [...] Para mim, foi a missão maior mostrar às pessoas que
não era porque eu estava gari naquela época que eu não tinha capacidade de
estudar", ressaltou Cleide Campos.
Foi com o trabalho como
gari que Cleide comprou uma casa e realizou um grande sonho.
Capítulo Três:
Professora formada
Depois de um dia inteiro de trabalho, varrendo as ruas de Arcoverde,
Cleide seguia para a faculdade de letras, no mesmo município. Um caminho cheio
de dificuldades. "Na faculdade eu tive uma experiência que não foi muito
legal. Eu tive uma professora que fez uma roda de conversa para cada um falar
da sua vida. Quando eu disse que era gari, as pessoas que tinham amizade comigo
se afastaram", contou.
Na
formatura, o orgulho de ter o esforço dela e dos pais recompensado com uma
meta, que é a realização de um sonho para quem passou por tanta dificuldade.
"Jogar meu diploma para cima foi tudo. E, naquele momento, estar do lado
do meu pai e da minha mãe foi sem palavras", falou emocionada.
Cleide e os pais durante a formatura dela na faculdade — Foto: TV Asa Branca/Reprodução |
Já formada, Cleide foi
trabalhar em uma escola e depois em uma creche da comunidade onde mora. Para
ela, uma oportunidade de distribuir todo o carinho que recebeu da família que a
criou durante a infância. Só que veio algo que mudou a vida de Cleide e a de
todo mundo.
Capítulo
Quatro: A pandemia e as unhas
Na pandemia da Covid-19,
as crianças deixaram de ir para a creche. Houve redução na quantidade de
profissionais e Cleide saiu do trabalho. Foi quando ela arrumou uma alternativa
diante da crise. Cleide transformou a frente da casa dela em um salão de
manicure e se especializou na área. Hoje, ela tem uma clientela fiel.
O que
antes era um hobby, agora se tornou a profissão. Ela fez cursos e se tornou,
também, professora de manicure. Cleide é autorizada a oferecer cursos na área.
Capítulo
Cinco: A Reportagem
"Eu ainda tenho muitos planos, muitos sonhos. Um deles é montar
um projeto de alfabetização na minha comunidade, porque vai ser uma forma de
retribuir o que Deus tem feito na minha vida. Eu quero dar àquelas pessoas a
oportunidade de escreverem", revelou Cleide.
Ela é
uma prova de que mesmo que as coisas não comecem tão boas, é possível escrever
uma história com fé e um final feliz.
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