Resultado de pesquisa conduzida na Unifesp foram
apresentados em conferência internacional sobre Aids
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Caso brasileiro foi apresentado como possivelmente o primeiro a mostrar remissão do HIV a longo prazo após tratamento medicamentoso, e não com transplante de medulaGetty Images |
O
caso de um homem brasileiro de 35 anos que está há mais de 57 semanas sem
sinais do vírus do HIV no corpo — com o qual fora diagnosticado em 2012 — após
receber tratamento em um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
é um dos destaques da 23ª Conferência Internacional da Aids, realizada ao longo
desta semana online.
Nesta terça-feira (7), o líder da equipe, o médico
brasileiro Ricardo Sobhie Diaz, apresentou brevemente o caso em uma coletiva de
imprensa virtual, disponível no
YouTube.
A
BBC News Brasil tentou obter entrevista e materiais sobre a pesquisa com a
Unifesp e a organização da conferência internacional, mas não teve retorno até
a noite de terça-feira (7).
Na coletiva de imprensa, a mediadora apresentou a pesquisa brasileira como
possivelmente o "primeiro caso de remissão a longo prazo do HIV sem um
transplante de medula" — procedimento usado em dois casos considerados
curados no mundo, na Alemanha e no Reino Unido.
No caso do estudo da Unifesp, o tratamento foi à base de
medicamentos.
"O paciente esteve sob tratamento regular com
antirretrovirais e, além do uso deste coquetel, foi colocado aleatoriamente em
um grupo (no experimento) que recebeu também, por 48 semanas, dolutegravir,
maraviroc e nicotinamida", explicou Diaz, doutor em infectologia e diretor
do Laboratório de Retrovirologia do Departamento de Medicina da Escola Paulista
de Medicina (EPM/Unifesp).
O
tratamento adicional com dolutegravir, maraviroc e nicotinamida foi recebido
pelo homem em 2016; depois do período de 48 semanas, ele voltou a usar somente
o coquetel regularmente utilizado para controlar a Aids.
Em março de 2019, ele parou de receber qualquer tratamento
contra o HIV. Testes laboratoriais rotineiros em seu organismo desde então não
detectaram o material genético do vírus.
Diaz também comemorou que houve um "declínio muito
forte" nos anticorpos detectados — uma vez que estes são uma resposta a
microrganismos potencialmente nocivos, seu sumiço é outro indicativo de
eliminação do vírus.
Na coletiva, o brasileiro foi questionado por colegas se
os resultados que mostraram quedas do DNA do vírus e anticorpos foram
confirmados também em laboratórios independentes, ao que respondeu que ainda
não. A necessidade de comprovar estes resultados em novos e independentes
testes foi uma lacuna importante apontada por cientistas que comentaram as
limitações da pesquisa brasileira.
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Coquetel regularmente usado no controle da AIDS foi associado, na pesquisa, ao dolutegravir, maraviroc e nicotinamidaGetty Images |
Ao
jornal americano New York Times, Monica Gandhi, especialista em HIV na Universidade
da Califórnia em San Francisco e uma das organizadores da conferência, afirmou
que os resultados são "animadores", mas "ainda muito
preliminares".
"Trata-se de apenas um paciente, então acho que não
podemos dizer que o procedimento garante a remissão", declarou Gandhi.
Também não ficou claro o que aconteceu com outros
pacientes que receberam a mesma combinação de medicamentos que o homem de 35
anos em 2016.
Há alguns anos, Diaz e sua equipe vêm trabalhando com duas
frentes para tratamento — e eventual cura — da Aids. Uma é com o tratamento
medicamentoso que bloqueia a replicação do vírus e elimina células em que ele
fica latente; a outra, uma vacina que estimula o sistema imunológico no combate
ao patógeno.
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